25 abril 2011

A Celebração do Ócio

É minha última semana de férias. Não viajei para BH como queria, não saí para dançar forró todos os dias, não assisti ao show do U2 Cover no Sheridans, nem fui a restaurante algum neste intervalo. Em vez disso, dei uma de ermitão. Fiquei em casa assistindo um monte de filmes, reli “Crônicas de Nárnia”, escrevi um pouco e curti minha namorada bastante. Minhas poucas saídas foram com o Joe e o Sérgio. Teve dia que até arrisquei caminhar. Descobri que dá para ir a pé da minha casa até Santa Felicidade, 20 a 30 minutos de distância – dependendo do ritmo – seguindo uma avenida boa de fazer caminhadas, com pista de cooper e tudo. É mais perto do que ir para o Barigui e o percurso é mais bonito. Até tentei ir ao tal Memorial Italiano e ao Bosque São Cristóvão, mas parece que estes lugares só ficam abertos durante a Festa do Vinho. Uma pena. Entretanto, a caminhada me rendeu boas descobertas. Além de ficar empolgado com a proximidade com o bairro gastronômico descobri perto de casa um bar especializado em cerveja artesanal que tem Opa, uma cerveja de Joinville que eu gosto muito. Antes eu só encontrava Opa no Maia Box do Mercado Municipal, mas agora eles estão trabalhando com uma cervejaria de Blumenau. Não que o produto novo seja ruim, mas Opa é Opa. O sabor da Opa tem uma peculiaridade, eu tenho a nítida impressão de que ela foi feita com a água de novo filtro de barro. Um gosto meio mineral, meio de terra, que fica super interessante no paladar. É esquisito isso. Antigamente eu achava que cerveja era tudo igual e agora eu provo cerveja como faço com vinho, à procura de sabores e aromas. A maturidade é uma coisa interessante. Um adolescente bebe por beber, embriaga-se, dá vexame. A gente vai envelhecendo e aprendendo a saborear melhor as coisas, com moderação, requinte. Acaba até ficando mais sofisticado e exigente. Em Santa Felicidade, fui a uma loja de coisas para casa que acho que deixariam minha irmã encantada. Quando a gente começa a montar casa não pode mais ir a lugares assim. Logo começa a imaginar isto e aquilo na sala, no quarto ou na cozinha. No meu caso, achei um jogo de fondue que me deixou babando. Preciso dar um jeito de comprá-lo para fazer fondue aqui em casa, ainda mais agora que estou com uma sala tão convidativa para receber os queridos.

Hoje acordei tarde. Ontem adormeci no sofá novo assistindo “Closer” pela enésima vez e só passei para a cama de madrugada, quando o frio me obrigou a buscar um edredom. Acordei já era mais de meio dia e nem me preocupei com o almoço. Para falar a verdade, nem mesmo pensei em lavar a louça acumulada do fim de semana ou fazer faxina. Pus umas roupas para lavar apenas porque a lavadora faz todo o serviço. Como é minha última semana de férias, dediquei este dia à celebração do ócio. Li. Escrevi. Revi uns livros de culinária procurando uma receita diferente para preparar quando tiver vontade. Comi bolo que havia feito no fim de semana. Fiz miojo e fritei lingüiça porque era mais fácil. Não cozinhei por pura preguiça mesmo. Cozinhar geralmente me deixa feliz. No aniversário da Lúcia, por exemplo, tive insônia e para a noite passar mais rápido decidi arrumar a casa toda e cozinhar. Preparei um bolo bom bocado de mandioca para ela e uma torta de amora para o Sérgio – que não come coisas doces com mandioca. Mas hoje, eu só quis “coçar” o dia inteiro. Fez um friozinho gostoso. Bem curitibano. Que bom. Já estava me cansando do calor. Adoro o frio. Dorme-se e come-se melhor, além de ser muito mais fácil resolver as coisas. Frio se resolve com blusa, com edredom, com caldos, vinhos, chocolates quentes e chás. Calor não se resolve. Suporta-se. Abri um Merlot safra 2001, presente do meu sogro. Já é notório que não sou um apreciador de Merlots. Sou grande fã de Shiraz, de Carmeneres, Malbecs, Tempranillos, Pinots... Mas Merlots? Meu preconceito talvez tenha sido o motivo da garrafa ter resistido intacta por mais de um mês. Bom, como a cavalo dado não se olha os dentes, abri a garrafa sem esperar muito. O tom atijolado do vinho e as lágrimas na taça me advertiram para mostrar um pouco mais de respeito, mas não dei muita importância. Tons mais alaranjados num vinho é sinal de maturação, são como os cabelos brancos em um sábio. Os vinhos jovens apresentam tonalidades arroxeadas próximas ao rubi. No exame olfativo, encontrei notas de tostado, especiarias e couro. No paladar, a surpresa. Os dez anos de repouso domaram os poucos taninos que um merlot geralmente tem e provei um vinho de corpo médio, equilibrado, redondo. Uma delícia. Acho que meu sogro nem desconfiava do prazer que teria ao degustar o presente. Tomei-o assistindo “O Amor e outras Drogas” (Love & Other Drugs, EUA, 2010) com a Anne Hathaway. Um bom filme. Comecei a assisti-lo pensando se tratar de outra comédia romântica despretensiosa, mas o filme vale a pena. Boa atuação da Anne Hathaway e do Jake Gyllenhaal. Bom enredo. Foi outra surpresa do dia. Melhor seria se a Lúcia estivesse aqui para assisti-lo comigo. Esse friozinho, com vinho e edredon... Hum, cenário perfeito para ficar agarradinho com minha ucraniana preferida. Uma pena mesmo que não vou vê-la. Mas, se Deus quiser, depois de amanhã mato toda esta saudade.

Lúcia tem me feito feliz. Simples assim. Quando a gente é feliz não fica pensando em como ou no porquê. A gente é e pronto. Ela é doce, inocente, divertida, linda, inteligente, e terrivelmente compreensiva. Além de se chamar Lúcia o que – se for a vontade de Deus - vai ficar lindo no convite de casamento: Lúcia e Luciano...rs. Agradeço a Deus por tê-la comigo pois há algo nela que me faz querer ser um homem melhor. Ela é de uma integridade e fibra moral que conheci em poucas pessoas e que serve de exemplo para mim de inúmeras maneiras. Tenho orado muito para Deus abençoá-la e completar sua obra na vida dela.

O céu está laranja. Sempre gostei desses matizes que só encontrei no céu daqui da capital paranaense. Céu laranja é sinal de inverno chegando. Notícia boa para mim que agrado o frio. O tempo está voando. Parece que foi ontem que cheguei aqui. O tempo com a Aline, com o Joe, na República e na casa do Pilarzinho parece, às vezes, lembranças de um sonho veloz que passou. O Pablo tinha razão quando me disse um dia em sua sabedoria precoce de adolescente: “Antes de se fazer 18 anos o tempo passa muito devagar, mas depois disso ele voa cada ano mais rápido.” Antigamente os anos eram eternidades divididas pelo natal. Hoje são dias que vão passando céleres até virarem meses, anos, décadas e uma vida inteira. Peço a Deus que me ensine o segredo de desacelerar o tempo para viver bem tudo o que me proporcionar: os sonhos e planos Dele para o meu viver, a vontade Dele. Minha oração tem sido a do salmista: “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que venhamos a ter um coração sábio.” (Salmo 90:12). Que Deus tenha misericórdia e me conceda isso.

Bom, vou ficando por aqui. Acho agora que vou assistir de novo Gladiador (Gladiator, EUA, 2000). Vida de última semana à toa...

Sinto saudades de todos. Saudades da família e todos os momentos vividos: as tardes de playstation com o Daniel, os filmes com a Aline e até as brigas com o Flavinho. Sinto falta da comida e do colo da minha mãe, do meu pai repetindo suas histórias sobre o Iraque “ad infinitum”, do jeito que minha avó mastiga a língua quando fala. Sinto falta dos amigos. Das idas ao Deles com o Claudinho, dos forrós com a Helen e a Denniece, das conversas com a Lívia Salum. Sinto até falta dos lugares: do Stadt Jever, do Salsa Parrilla, do Cardoso, do Bolão, da Pampulha, da UFMG, do cheiro do Mercado Central. Tenho saudade do sotaque que só aprendi a reconhecer no ouvido quando deixei Minas Gerais. Tive erros e acertos como todo mundo, mas, definitivamente, Curitiba foi um acerto. Apesar dos pesares e dificuldades, estou feliz. Deus cuidou de mim até aqui, mesmo que eu não tenha merecido.

2 comentários:

helen vilela disse...

saudades. saudades de te contar do que tenho vivido - saudades. saudades.

Luciano Maia disse...

Uai... Vc em meus numeros e meu email... Liga ou escreve! Ah... Fiz facebook pra mim tbm