Existem mulheres que revolucionam a história de um homem a tal ponto que acabam virando pontos de referência. Parece que a classificação mais lógica para a vida é “antes dela” e “depois dela”. Talvez seja um efeito natural que as grandes mulheres exerçam sobre seus homens. As mulheres comuns, as ordinárias, vulgares, podem até causar seus incêndios na carne ou intoxicar os pensamentos por um tempo... Mas não passam disso. Tudo fica como se fosse uma febre ou infecção, mesmo que deixem convalescente ou à beira da morte, no fim acabam passando como qualquer outro mal desta existência e, inclusive, haverão com isso fazer o homem mais forte. É um dia para se apaixonar, outro para chorar por elas e no terceiro já nem se lembrar de seu nome. Já as mulheres fora do comum, as extraordinárias, singulares, estas podem marcar para a vida toda... Mais do que simplesmente deixar a carne ardente de desejo, ou o pensamento povoado de vontades, inspiram uma felicidade na alma e no espírito que não têm rivais. O corpo esquece a intensidade do desejo satisfeito, a mente pode distrair-se na presença de alguma beleza nova, mas a alma relembra com saudade... Adélia Prado tinha razão: “O que a alma amou é eterno”. Mulheres assim conseguem fazer um homem sentir-se invencível só por ter conquistado sua afeição. Parecem ter o dom de trazer o melhor à tona, mesmo nos casos mais improváveis. De repente aflora uma capacidade surpreendente de realizar grandes feitos, uma crença íntima quase inabalável de que se pode fazer algo para mudar o mundo para melhor. Talvez Napoleão não tivesse conquistado seu império sem sua Josefine, ou Lutero tivesse desistido da Reforma se Catarina Van Bora não tivesse entrado em sua vida. Dizem que atrás de todo grande homem existe uma grande mulher. Muitas vezes não é atrás, mas na frente mesmo, arrastando-o pela mão; ou ao lado, apoiando-o delicadamente e evitando que ele tropece e caia... Enquanto as mulheres vulgares são ruína, as extraordinárias são pilares ou colunas... Se existem as que são buracos negros que sugam tudo e nunca se saciam, também existem as que são estrelas que orientam e alegram, mesmo nas noites mais sombrias.
O problema em ter uma mulher assim, é justamente sobreviver à sua perda se ela sai de nossa vida. Sem a coluna, a construção vai ao chão. Sem a estrela, as trevas da noite são mais intensas. Há de se ficar desolado e perdido por um tempo. A sensação é a de um pintor ou artista acostumado a todas as cores que existem que, subitamente, descobre-se acometido de daltonismo... O mundo, antes vasto, vívido e repleto de cores, matizes e nuances, torna-se um lugarzinho cinzento e triste. As paisagens caleidoscópicas desbotam até virarem uma corrupção em tons gris e dégradés em preto e branco. As palavras de Mário Quintana servem para explicar essa triste privação, embora o verso original fale sobre desejar o inalcançável: “Que tristes seriam os caminhos não fosse a presença mágica das estrelas (...)”. A tristeza de estar longe do olhar e do cuidado de uma grande mulher fica pior ainda quando se constata na prática que se perdeu um tesouro. É descobrir nas noites que há mais mulheres vulgares e ordinárias do que mulheres especiais. Olhar em diversos olhos sem identificar nenhuma centelha queimando no fundo da alma. Arriscar convivências apenas para perceber em pouco tempo que as qualidades desta e daquela não conseguem ir além dos limites da pele. Esperar surpresa e profundidade e encontrar mesmice de pensamento e espírito raso. O homem acostumado a mergulhar nas funduras oceânicas da psique de uma mulher extraordinária há de entediar-se facilmente e achar desinteressante passear pela superficialidade dos tipos vulgares. É como prender Jacques Cousteau num brejo. Quando se tem a certeza de que algo realmente valioso e único já esteve ao alcance, não se pode contentar com nada inferior. A convicção da singularidade da conquista torna o homem exigente. Qualquer mulher com o mínimo de noção da arte da sedução e um decote que lhe revele ou insinue os dotes naturais é capaz de despertar o desejo de um homem, nem que seja só por uma noite. Mas só uma grande mulher consegue penetrar nos sonhos, expectativas e esperanças mais duradouras do íntimo masculino, persistindo até depois que o apetite sexual tenha sido saciado (ou aguçado). Um homem que encontra uma mulher assim, não perderá seu tempo chafurdando-se nas sobras que o mundo oferece aos montes, mesmo que essas sobras venham primorosamente disfarçadas em uma bela embalagem, seja de sorriso perfeito ou curvas convidativas. Ele sabe que uma mulher de verdade satisfaz, preenche e é suficiente de maneiras misteriosas demais para a imaginação e entendimento das mulherzinhas comuns sorridentes e insinuantes que superpovoam este planeta. Não é algo que pode ser ensinado, aprendido. Não se compra ou vende. Não é passível de imitação ou encenação. É algo que se é, no âmago, no fundo do ser. Uma preciosidade nata. É o essencial invisível de Exupéry, ou nas palavras do sábio rei Salomão: “Mulher virtuosa, quem a achará? O seu valor muito excede o de finas jóias.” (Provérbios 31:10).
Escrito na tarde de 11/05/2010. Correção e versão final no mesmo dia às 22:22h.
25 junho 2010
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