25 junho 2010

Na Toca do Coelho

“A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas.”
- Horácio –
(Filósofo e poeta latino)


Assisti “Alice no País das Maravilhas” na versão nova de Tim Burton. Não é um filme para crianças. Aliás, não recomendo nenhum dos filmes dele para menores. Amei “O estranho Mundo de Jack”, “A Noiva Cadáver”, “Coralina” e “9 – A Salvação”... Mas acho o Tim Burton sombrio demais para a mente infantil. Criança tem de ficar é com filme da Disney e da Pixar mesmo. Boas gargalhadas, muitos clichês, vilões previsíveis e alguma liçãozinha chinfrim de moral no final. Alice tem suas lições a ensinar, mas segue a linha mórbida que faz do trabalho de Burton tão peculiar... Acho que quando li o livro eu era um menino. Muito do enredo estava perdido em minha memória, assisti ao filme com gosto de novidade. Alice chega ao País das Maravilhas e percebe que o coelho que a conduziu até lá está sendo repreendido por ter levado a “Alice errada” para lá. A Alice que todos esperavam era a heroína que mataria o monstro alado da Rainha Vermelha, não aquela menina inofensiva. É justamente na fuga para proteger a própria vida e provando coisas que ora a fazem crescer demais e ora a fazem diminuir demais que Alice vai tornando-se o que devia ser. Talvez seja uma boa metáfora para o que tenho experimentado. Pelo menos seis coisas impossíveis também me esperam todos os dias antes do café da manhã, mas se consigo lidar com elas, também posso lidar com os leões e dragões que tenho de matar todos os dias. Há momentos em que me sinto poderoso, há outros que me sinto vulnerável demais. Em muitas ocasiões me vejo em conflito e acho que sou o “Luciano errado”... Mas aos poucos vou me tornando um matador de monstros. O monstro do aluguel, da luz, da água, da comida, das roupas, da solidão. Cada manhã a história começa novamente. Tenho tentado me preocupar com o presente. O “pão nosso de cada dia”, o “basta a cada dia o seu mal”, nas palavras de Jesus. Deus tem cuidado de mim até aqui e sei que Ele se encarregará do meu futuro melhor do que eu mesmo. A jornada tem me mudado. Pouco mais de um ano em Curitiba e já sou uma pessoa bem diferente da que chegou aqui. De hóspede a morador de república, de apê dividido a morar sozinho... Não sei qual será o próximo passo. Sei que é bom ver o “Luciano Errado” se metamorfoseando aos poucos no “Luciano da história” – mesmo que eu ainda não saiba que destino está reservado para mim. Queria que fosse como foi com Alice. Ter um oráculo na mão indicando qual o monstro final e qual o dia eu deveria matá-lo, nem que fosse só para ficar duvidando... Na falta, vou aniquilando cada dificuldade como se fosse a maior e derradeira. A Alice da história foi ajudada por muitos amigos. Eu tenho meus amigos também. Novos e velhos. Cada um insubstituível para mim. Alguns tão loucos quanto o Chapeleiro. Eles têm estado comigo e me auxiliado. Mas eu tenho um trunfo na manga que a Alice não tinha: a menina não podia conversar com o autor de sua história e nem sabia seus sentimentos para com ela, eu posso e sei...

Continuem me mantendo em suas orações e lembranças. Há coisas a aprender ainda aqui na toca do coelho e não quero deixar passar nenhuma.

Abraços,

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