Que venha 2010

Ano novo é sempre tempo de reflexão. É a hora de colocar na balança tudo o que passou, reavaliar pontos de vista e fazer listas de coisas para mudar no próximo ano. Engraçado como minha vida mudou em um ano. Na virada de 2008 para 2009 não quis participar de nenhum dos rituais que costumeiramente as pessoas participam na transição dos anos. Não pulei onda na praia. Não estava na igreja ajoelhado à meia noite em ponto. Nâo vi os fogos na Pampulha. Não beijei ninguém, sequer abracei... Passei a virada sozinho no meu quarto pensativo e agoniado com o rumo que minha vida estava tomando, remoendo arrependimentos pelo feito e pelo não feito, sentindo frio na barriga. Foi naquela noite que decidi ir pra Curitiba para morar, depois de muito relembrar a frase do Amyr Klink, "Um dia é preciso tirar os sonhos da gaveta e, de alguma forma, começar." Eu comecei naquela noite. Mesmo que só tenha viajado no dia 03/01, a noite de virada foi uma espécie de Getsêmani para mim. Foi naquela noite que sofri a agonia da incerteza num peso tão grande que quase pedi a Deus, "Passa de mim este cálice". 2009 começou do zero para mim. Morando de favor. Procurando emprego. Aprendendo a andar em Curitiba. Aprendendo a lavar roupa e fazer comida. Descobrindo a matemática certa para o dinheiro durar o mês inteiro. Os inícios são sempre mais complicados. A gente ainda é ingênuo o suficiente para acreditar que sabe tudo... Felizmente cedo demais eu descobri que sabia muito pouco e , a ferro e fogo, fui aprendendo as liçoes que somente a vida solitaria é capaz de ensinar.

Vivi muita coisa em um ano. Aprendi muito e me transformei. Definitivamente nao sou a mesma pessoa que deixou BH. Voltei com muito mais por trás dos meus olhos. O sujeito que me encara do outro lado do espelho é um homem diferente do que havia acreditado ser todos esses anos. Tive meus dias de choro, de sofrimento, de querer me jogar de algum lugar alto, mas tive alegrias e prazeres que compensaram. Conheci pessoas interessantes, me adaptei a costumes e provei sabores que me moldaram meu mundo numa coisa nova e boa.

Ainda não terminei minha jornada. 2010 terá outros desafios que enfrentarei de peito aberto. Tomei gosto pela luta e a labuta. Sei hoje que o único jeito de ser inteiro é perdendo algumas partes pelo caminho... Sei que "pior do que não terminar uma viagem é nunca ter partido", outra verdade que aprendi com o Amyr Klink. Há muitos portos ainda à minha espera em 2010. Mares turbulentos, tediosas calmarias. Pode ser que eu encontre tubarões querendo devorar-me ou golfinhos que me acompanhem alegremente. Pode ser que observar o vôo de algum pássaro me encha de saudade ou me faça brotar uma solidão do tamanho do mundo. Mas não perco minha fé de que Deus sempre colocará no meu céu mais escuro milhões de estrelas para me orientar, ou providenciará o vento certo e a corrente certa para me tirar do lugar quando necessário. Não tenho mais a ilusão de controle. Que seja o que Deus quiser em 2010!

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BH - 01/01/2010 - Escrito no meu velho quarto que já não tem o meu cheiro...