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Já são quase meia noite, estou tomando uma caneca fumegante de chá e ouvindo Frank Sinatra. No ar ainda posso sentir uma nota de anis deixada pela última vareta de incenso queimada. Feliz cansaço quando se tem uma cama à espera e a consciência tranqüila. O sono do justo não é algo que se compra. Foi um dia bom, apesar de alguns contratempos. Estou ainda perseguindo minha meta, o que é preocupante. Prefiro quando alcanço a meta nos primeiros dias e depois fico correndo atrás de melhorá-la. O pior é que meu aniversário se aproxima e quero ter condições de dar um pulo em BH e comemorar meus 30 anos entre meus queridos. Que Deus me abençoe nestes planos, mas se eu ficar por aqui vou aproveitar e celebrar também. Meu coração continua grato pelo cuidado de meu Deus comigo. Nada tem me faltado e vejo a mão Dele em tudo o que me acontece, até no que não consigo explicar ou entender. É bom olhar no espelho e sorrir satisfeito com a descoberta de o que estou me tornando. Tenho horas de dúvida e de confusão, mas meus dias são de confiança em Quem guia meus passos...

O fim de semana passou voando. Acho que é porque eu estava cansado do feriado prolongado e não descansei plenamente ainda. Dormi bem, mas minha mente tem andado ocupada com algumas coisas. Tenho de aprender a dominar um pouco minha ansiedade.

Falei com o Claudião ao telefone. Foi delicioso ouvir uma voz amiga naquele sotaque mineiro. É engraçado quando a gente começa a reconhecer o próprio sotaque. Isso tem acontecido em minhas últimas ligações. Geralmente a gente tem aquela impressão – como diria o Claudinho – que “fala igualzinho ao cara do Jornal Nacional”. Ficar aqui exposto a um modo de falar diferente está abrindo minha percepção para detectar as nuances. É bacana demais! Conversei um monte com o Claudião. Ele me perguntou sobre as diferenças teológicas da luterana, sobre como eu estava, sobre novidades. Foi muito bom. Me fez bem demais. Cheguei em casa muito mais animado, mesmo depois de um dia cansativo de trabalho.

Hoje também fiz caminhada com a Thaísa. Foi um período extremamente agradável. Saímos do Centro, seguimos até passar perto do Jardim Botânico e depois voltamos cortando caminho por dentro do Cristo Rei. Esta é a época em que os ipês florescem e passamos por vários deles com suas flores de amarelo vivo. Mesmo à noite eles se destacam. Gosto do contraste das flores com os galhos nus e do tapete amarelo junto às raízes. Ipês me lembram BH, me lembram tardes quentes na Praça da Liberdade, o céu azul profundo além das flores amarelas, um prédio do Neimeyer por perto... Deu saudade. Não encontrei ainda nenhum ipê roxo por aqui. Só amarelos. Mas lembrei que gostava de ver os ipês roxos na Contorno, próximos ao antigo prédio de Farmácia da UFMG. Cruzamos a linha do trem. Acho super bacana os trilhos atravessando Curitiba bem no centro da cidade. Dá um toque interiorano, de outros tempos, outra época, mais simples. Paramos um instante numa trincheira na Visconde de Guarapuava para eu mostrar a vista noturna da avenida para a Thaísa. É bem bonito. Ela me disse que nunca tinha parado para olhar. Esta é uma parte de boa em ser estrangeiro em uma cidade: ver as coisas cotidianas com outros olhos e encontrar beleza. Contei a ela sobre os enquadramentos e efeitos que uma foto noturna tirada do ângulo certo dali podia ocasionar. Meus olhos já tiraram milhões de fotos daquela avenida, todas fascinantes. Descendo de volta, meu nariz ainda encontrou um jasmim num muro próximo. A caminhada foi revigorante. Foi uma hora muito bem aproveitada. Estava mesmo precisando das endorfinas e das paisagens e a companhia da Thaísa fez tudo ficar mais agradável. Ela até me emprestou um CD com as músicas do Som do Céu para eu copiar. Já até ouvi algumas faixas e viajei na memória...

Bom, acho que é só isso... Há outras coisas que gostaria de comentar, mas tenho aprendido que nem tudo deve ser exposto. Há o que temos de guardar só para nós mesmos, em toda sua tortura e delícia. Coisas que a gente só fala com Deus e mesmo assim sussurrando no travesseiro e cuidando para ninguém mais ouvir...

Não se esqueçam de mim, pois me lembro sempre de vocês. Continuem orando e sabendo que Deus tem me dado o melhor Dele em minha estadia aqui no sul.

Abração,