De onde eu vim...

Foi de lá que eu vim...
Meu berço é entre montanhas
e meus mares são de morros.
Minha água é doce e gelada,
brota da rocha alta
e cai pintando arco-iris
no meio da mata,
arredondando pedras,
refrescando a terra
e os bichos à margem.
Flores se abrem à passagem,
pássaros cantam livres.
Até o céu é mais azul
por aqueles lados...
Nunca soube o porquê.

Meu peito deseja liberdade
ainda que tardia,
quer paz,
mesmo que o preço seja sangue.
Tenho na alma inquieta o eco
dos sinos de mil igrejas
sob os olhares preciosos
de antigos anjos barrocos,
carrego poemas e conspirações
de sonhos inconfidentes,
risos de botecos e adegas,
juras de amor e exílio
e acordes de violões
que guardei das esquinas
de onde vim...

Minha casa de onde vim
é pousada e cozinha
de todos os amigos,
toda a família,
recebidos com gosto e doces,
beijos e queijos,
frutos da terra,
animais do quintal.
Prosa à mesa
e em volta do fogão.
Casos intermináveis,
velhas piadas.

Foi de lá que eu vim...
Seguindo a estrada,
arriscando passos,
me descobrindo e me encontrando.
Mudei as roupas
e escondi as mãos
para me proteger do frio
que chegava no vento
ou no rosto das pessoas,
mas não se engane, seu moço.
Não se engane, sô.
Mudei e aprendi,
mas ainda sou
o filho da Lourdinha e do Carlinhos,
o neto da Geralda,
Tenho história
com nome e sobrenome.
Já fui benzido por padres,
batizado por pastores,
ungido por diáconos,
e ainda carrego comigo o
Chamado do Alto
e a fé e Dúvida daqui de baixo
Ainda sou o poeta,
o louco,
o inconfidente,
livre,
violeiro,
vagabundo...
Meu coração é de um metal
que não existe por aqui,
desconhece a ferrugem e a amargura,
confia nas Mãos
de Quem o está forjando...

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Escrita em 10/07/2009 - 02:16
Saudades de casa.