Um lição de Jó em Curitiba

(Carta aos amigos de ontem e de sempre)

A história de Jó é uma de minhas favoritas na Bíblia.Quem não a conhece, aqui vai uma síntese: Jó é super rico e justo (mistura incomum...rs). Deus e o diabo conversam e o bicho ruim alega que Jó só é um homem bom porque Deus só lhe dá bênçãos e que se Deus deixasse de favorecê-lo, ele iria blasfemar e se tornar mal. Deus aceita um desafio e tira tudo de Jó, exceto sua vida. Jó permanece fiel e no fim ganha o dobro de tudo que possuía. Mas o detalhe que mais tem me falado nestes dias passa despercebido à maioria das pessoas. Já ouvi sermões ou palestras que falam sobre como Jó era "íntegro e temente a Deus"; disputas acaloradas sobre tudo não ter passado de uma aposta entre Deus e o diabo; discursões teológicas sérias sobre a posição dos amigos de Jó (a famosa teologia da retribuição) ou se Jó existiu ou foi uma fábula para passar uma verdade espiritual e até picaretagem de alguns ditos pastores que espalham por ai a infâmia de que Jó perdeu os bens porque "não pagou o dízimo". Mas nunca vi até agora uma palavra sequer sobre a forma que Deus usou para restaurar a sorte de Jó.

Em Jó 42:10a está meu versículo favorito do livro: "O Senhor, pois, virou o cativeiro de Jó quando este orava por seus amigos". Algumas traduções trazem "mudou a sorte" ou "fez próspero novamente". Não pretendo aqui - como muitos sucumbiriam à tentação - fazer doutrina com um versículo só. Nem me dei ao trabalho de procurar textos que autentiquem nada como "bíblico". Vou falar somente sobre coisas que têm passado na minha cabeça e coração: tenho pensado muito que minha sorte pode ser mudada quando estou em oração por meus amigos. E tenho orado muito por eles. Curitiba é uma cidade totalmente diferente do que estou acostumado. As pessoas são distantes e frias. Sinto falta daquela amizade mineira: dos abraços apertados, de cumprimentar com "três beijinhos", de gente que liga só para "saber como está" e chamar para "fazer alguma coisa" ou "tomar uma" com data e hora marcada. Estou com saudade dos amigos que aparecem do nada, que não precisam de permissão para me visitar (e vice-versa). A ausência dentro da cultura curitibana desses traços que me são tão caros tem me feito lembrar muito de meus amigos quando falo com Deus. Oro pedindo proteção e sabedoria para o Claudinho nos EUA. Oro pela Helen pedindo força e coragem para enfrentar os "dias de São Tomé" que ela aprendeu comigo. Oro muito pela minha família: por meu pai, mãe, Aline e Daniel, pedindo pelo emocional, pela provisão financeira,pela saudade. Oro por todos os amigos do "Bloco E", recordando histórias entre as preces (algumas dignas de implorar perdão). Intercedo pela Lívia lá em São Carlos e penso que ela deve entender bem o que me dói. Peço pela Raisa, que nunca sei se está em BH ou Sampa, ou se será advogada ou modelo. Oro pelos amigos de Curitiba: muito pela Italiana e sobre os últimos dias (ela sabe bem que não sai de minhas orações), pelo Joe, pela Aline Marques e outros que só conheci aqui. É bom aproximar-se de Deus com tantas pessoas queridas para apresentar a Ele e esse exércício tem criado em mim um sentimento de gratidão muito forte. Deus é bom! Nunca tive tanta certeza disso!Essa expressão: "Deus é bom!" virou mais do que um adesivo para carros ou um slogan para camisas de retiro espiritual, é uma exclamação que me sai da alma. Agora entendo bem o que o rei Davi sentiu quando escreveu muitos de seus salmos. Entendi que a bondade de Deus se manifesta até nos amigos que Ele permitiu que eu conquistasse e mantivesse até aqui. A lembrança dessas pessoas especiais me enche de saudade e dói muito, mas é uma dor gostosa que também me ajuda a perseguir meus sonhos, a permanecer firme e persistente e seguir adiante. É gostoso ter pessoas no mundo que trazem sentido à vida da gente. Enquanto oro por todos esses amigos, vou me fortalecendo e sendo abençoado também. Acho que o apóstolo Paulo sabia disso quando recomendou à igreja primitiva que orasse uns pelos outros. A oração a favor do outro tem um efeito terapêutico na alma humana! Acho que é porque concorda diretamente com o maior mandamento de Cristo: de que nos amássemos uns aos outros. Orar por alguém é um ato de amor.

Nenhum de vocês está esquecido por mim e Deus é minha testemunha. Amo meus amigos e sinto falta sim, ainda mais aqui nessa cidade...

Vou continuar orando e peço que façam o mesmo por mim. Assim que possível nos encontraremos novamente e teremos um milhão de novas histórias para contar e ouvir...

Abraços,