23 dezembro 2008

O Ponto final e as Reticências...

Nunca gostei de pontos finais. Sempre fui adepto das reticências... Lindas assim: apontando a indefinição dos sentimentos, das expectativas, dos atos. O ponto final é o sinal da razão. É conclusivo. Interrompe o curso das idéias, pesado feito chumbo, "empaca" no meio do caminho como a pedra de Drummond. As reticências saem da alma, são voláteis. Uma vez escritas, estendem suas asas longas e já não se pode mais prever até aonde irão voar ou onde pousarão... O ponto final é masculino, as reticências têm a natureza dançarina e hipnótica das mulheres. São a expressão gráfica do puro sentimento. Subjetividade visível. Entram pelos olhos e vão se arrastando pela imaginação, sutis e misteriosas. "O que diabos fulano quis dizer com essas reticências?". O ponto final tem a força dos "porquês" deste mundo, mas as reticências encerram toda a magia do "talvez", do "E se". Transcendem a tudo. Não pretendem nada: ou se completam com o outro, ou ficam eternamente à espera. Talvez seja esta a razão pela qual o sinal escolhido para elas foi "três pontinhos" seguidos e não, por exemplo, um par de pontos. Há sempre algo faltando numa reticência... Algo que depende da sensibilidade alheia, do interesse em apreciar mais de perto as possibilidades e cometer erros até conquistar (ou criar) o seu sentido real. E isso não vale somente para a pontuação, o que seria da vida sem os olhares reticentes? Ou aquele silêncio com "três pontinhos" implícito? Estaríamos reduzidos a falar e responder mecanicamente sentindo nada ou muito pouco. Cheios de pontos finais para declarar nossas sentenças e condenações e com tão pouco material para o sonho e a poesia...

Graças a Deus pelas reticências!

(...)

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