26 dezembro 2008

Trocando galhos por penas...

Entra um vento frio pela janela e me sinto como a personagem de Juliette Binoche no filme "Chocolate", ouvindo sobre lugares e pessoas para se conhecer. É frio como o clima do sul, o que já pode ser um presságio. Mas, ao contrário da personagem cinematográfica, eu sei muito pouco sobre a vida. Mesmo tendo viajado um bocado nos meus melhores anos, deixei criar raízes onde estou agora e (se não doloroso) é um incômodo arrancá-las do solo a esta altura do campeonato. O que me dá coragem é que tenho a alma e o juízo de um passarinho... Só não sei ainda se isto é bom ou ruim.

Mudar exige mais trabalho e coragem do que eu pensava... Mas quero prosseguir com meu plano mirabolante de descobrir como é "ser eu mesmo sem nunca ser o mesmo". Como diria o famigerado Raul Seixas: "Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo". O problema em ter me acostumado a ser sempre árvore é a obsessão por raízes fixas. Minha alma tem asas atrofiadas pelo comodismo. A seiva dos lugares conhecidos circulam em minhas veias como uma espécie de droga que meu subconsciente confunde com alimento, mas agora desejo o alimento dos pássaros. Quero o vento nos cabelos, sussurando nos ouvidos sobre as surpresas de viagem, sobre encontros e desencontros, sobre encantos e perigos. Claro que tenho medo, o pássaro que não aprende a temer os predadores e as armadilhas da vida, não durará muito tempo. Se até as árvores têm seus temores... Se temem as tempestades, os lenhadores, os cupins e pragas... Muito mais a temer têm os pássaros, de corpo mais frágil e sustento incerto. Mas os pássaros devem se lembrar da providência divina, que existe alguém que zela por eles e se preocupa a ponto de não deixar que nenhum caia ou fique desamparado se não for dessa Vontade Soberana. Em minha vida de pássaro temei de confiar assim, ou é certo de ficarei louco ou pior. Não posso ficar esperando também. Há estações a serem decoradas para tirar melhor proveito delas. Brisas e ventos para se saber o nome e onde vão dar. Terei de aprender na prática a diferença entre um fruto apetitoso e um venenoso. Ah... e valorizar as facilidades e segurança de um bando, mesmo que vôos solitários façam parte de minha vida a maior parte do tempo.

Difícil ofício este de trocar raízes por asas! Tomara que valha a pena!

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