Comentários Sobre Efésios 1:13,14

"Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram SELADOS em Cristo com o Espírito Santo da promessa, que é a GARANTIA da nossa herança até a redenção daqueles que PERTENCEM a Deus, para o louvor da Sua glória." (Efésios 1:13,14 - NVI)

Estes dois versículos encerram certas verdades fantásticas. Eles falam do presente e apontam o futuro daqueles que verdadeiramente pertencem a Deus. A expressão "quando vocês ouviram e creram" empregam dois partípios temporais em grego que indicam tempo contemporâneo (akoúsantes e pisteúsantes, melhor traduzidos para manter o sentido original por "ouvindo" e "crendo", respectivamente). O tempo indica um movimento contínuo a partir de um início e sugere que ouvir e crer o evangelho não é um acontecimento isolado na vida de alguém, é um ponto de partida. Deve ser uma prática constante e contínua. Talvez este texto seja um ótimo paralelo no entendimento da ordem que Paulo dá em outra epístola para que os crentes desenvolvam a própria salvação "com tremor e temor" (Filipenses 2:12). Desenvolver a salvação é buscar incessantemente uma vida de intimidade com Deus e, ser íntimo com Deus, resulta na nossa santificação.

Assim como fomos salvos através da graça de Deus(Efésios 2:8), também acontece com nossa santificação . Pensar em santificação como deixar de transar, fumar, de ingerir bebidas alcoólicas ou assistir tv é um reducionismo barato. Pessoas com vida sexual inativa não estão consequentemente mais próximas de Deus. A chamada "geração saúde" não bebe, não fuma, só se alimenta de produtos saudáveis e nem por isso desfruta de uma vida espiritual igualmente saudável. A pobreza priva ou restringe a alguns o acesso à mídia, mas isso não os impulsiona a chegar mais perto do Criador. Não estou defendendo a liberação sexual, a beberrice, o tabagismo ou a secularização de todas as coisas dentro da igreja. A questão é que Deus não nos chamou simplesmente para uma aparência religiosa, mas para um vida plena de intimidade com Ele. É algo mais sublime do que contentar-se com os legalismos do "pode" e "não pode"! Na época de Jesus, existiam os fariseus que tinham uma conduta religiosa exterior perfeita, mas Cristo os denunciou como hipócritas e sepulcros caiados. O exterior era bonito, mas o interior era cheio de morte e podridão. Não devemos cometer o mesmo erro dos fariseus. Podemos lembrar também de Abraão, a promessa de Deus foi que ele SERIA uma bênção, não que somente aparentasse ser uma bênção ou que tivesse uma bênção (como os adeptos da famigerada teologia da prosperidade gostam de vender o bordão). Ser é o que importa para Deus, não aparências ou posse de algo. Não existe meio termo. A vida com Deus deve ser 100%. É tudo ou nada. João diz que "aquele que afirma que permanece Nele (em Jesus), deve andar como Ele andou" (I João 2:6, NVI). Andar como Jesus andou implica em ter uma vida de completa intimidade com Deus, 24 horas por dia, em todos os lugares! Esse dualismo que temos de insistir em fazer distinção entre atividades seculares (como trabalhar, estudar, ter recreações) e atividades sagradas (a igreja, o culto, as disciplinas cristãs) não é biblico! Deus quer participar e governar todas as áreas de nossa vida. Ele quer que nossa existência nessa terra seja plena na presença Dele. O Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia) mostra como Deus se preocupou até com os detalhes mais triviais da vida de seu povo e esse mesmo cuidado Ele continua tendo hoje para conosco. Devemos ter uma postura ministerial também fora do ambiente e comunidade da igreja. Somos agentes de Deus na transformação do mundo. Deus nos convida a sermos como Abraão, um "príncipe de Deus" no meio do povo (Gn 23:5), como Noé, "justo e íntegro entre o povo de sua época" (Gn 6:9). Se esses homens conseguiram isso numa época em que o Espírito Santo ainda não habitava dentro do homem, nós devemos conseguir também. Isso que é ser testemunha até os confins da terra (Atos 1:8). A vida completa com Deus só acontece quando estamos sob o governo do Espíríto Santo de Deus. Nesse sentido que a santidade é pela graça: uma vez que ouvimos e cremos no evangelho,temos o Espírito Santo habitando dentro de nós, nossa natureza é REGENERADA (nascida de novo)e passa a ansiar a comunhão contínua com Deus. Desenvolver a nossa salvação é manter contínua vigilância para que a velha natureza e mentalidade, chamadas por Paulo em outros textos de Velho Homem ou Velho Fermento não se manifeste novamente(cf Romanos 6:6,12/Romanos 12:2/I Coríntios 5:7). Pecar não é o padrão do filho de Deus, seu padrão é a vida de intimidade com o Pai, reconciliado através de Cristo. Quem é verdadeiramente de Deus não vive na prática do pecado (I João 3:6). Enquanto estivermos neste mundo, vez ou outra podemos até ter deslizes, lampejos da velha natureza se manifestando, mas não é o normal. Por isso João escreveu em sua epístola "Se, porém alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. Ele é a propiciação pelos nossos pecados." (I Jo 2:1,2b NVI).

Outra palavra importante no texto é "SELADOS". Paulo deixa claro que fomos "selados em Cristo com o Espírito Santo da promessa". É preciso atentar para o que essa palavra significava para os leitores originais da epístola. Primeiramente, o selo assegurava QUEM era o REMETENTE de um documento oficial, concedendo-lhe autoridade. Era um atestado de procedência. Vale lembrar o caso de Davi enviando um de seus soldados para a morte certa para esconder seu adultério (2 Samuel 11:14-21), por mais que as ordens fossem terríveis, eram as palavras do rei e foram obedecidas sem questionamentos. É o Espírito Santo que garante que somos de Deus, por isso lemos que "Se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo" (Romanos 8:9, NVI). Em grego, a expressão traduzida como "não pertence a Cristo" é "outos ouk estin Autou", literalmente "este não é dele" ou "este não é vindo Dele". O genitivo "Autou" indica posse ou origem. No mesmo capítulo de Romanos (Romanos 8:15,16)entendemos como recebemos esta procedência Divina, o Espírito Santo nos permite ser adotados e nos eleva à condição de Filhos de Deus, usufruindo de intimidade com Ele. A palavra "Abba" equivale a um tratamento íntimo entre Pai e Filho, seria traduzida melhor por "papaizinho". Para se ter idéia da ênfaso por trás desta palavra, os servos de uma casa eram passíveis de morte caso se referissem ao chefe da família desta maneira, este um tratamento era único e exclusivo dos filhos. Outro aspecto importante do selo é que ele garantia a integridade do conteúdo. Um documento selado em que o lacre não estivesse rompido mantinha, com certeza, as características originais pretendidas pelo REMETENTE. O Espírito Santo é quem nos conserva da maneira que Deus nos quer. Ele atua em nós guiando-nos na verdade e mantendo-nos segundo a vontade de Deus (João 14:16-31/ 16:13/Romanos 8:14/ Gálatas 5:16). O Espírito que nos selou não é qualquer espírito, é o Espírito da Promessa. Em Êxodo 25:8 encontramos Deus falando: "E farão um santuário para mim e eu habitarei NO MEIO deles" (NVI), infelizmente a maior parte das traduções perdeu o sentido original. A palavra traduzida por "entre" ou "no meio" é uma variação do hebraico "Bêtôr", que significa literalmente "Dentro". Entender esse sentido da palavra, nos faz ver que a construção do santuário era uma oportunidade para o povo adorar e buscar uma aproximação de Deus, mas a habitação pretendida por Deus não era o Tabernáculo, mas sim o coração do povo. Creio que a promessa do Espírito começa aqui, como a esperança de ser HABITADO por Deus, mais do que gozar da visita Dele na viração do dia (como acontecia no Éden), mas experimentar uma existência íntima e plena com Deus até o momento em que estaremos diante Dele para sempre.

No verso 14, lemos que este Espírito da promessa é a GARANTIA ou PENHOR "da nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus". A palavra grega traduzida aqui como garantia é "Arrabon", um termo comum do comércio de escravos que servia para designar um "adiantamento" ou "depósito parcial" dado como garantia de que a transação comercial estava efetuada. Um aspecto importante e interessante sobre o "Arrabon" é que ele tinha a mesma validade do pagamento integral da dívida. Se um mercador recebesse o "arrabon" por um escravo, o escravo deixava de ser sua propriedade e já era considerado como vendido, não havia a possibilidade de desistência nem o escravo podia mais ser negociado com qualquer outra pessoa. Essa situação era comum de acontecer, por exemplo, se o comprador precisasse de tempo para preparar o local onde acomodar sua nova aquisição. É irresistível não refletir sobre este contexto lembrando das palavras de Jesus em João 14:2,3 "Na casa de meu Pai há muitos aposentos, se não fosse assim, eu lhes teria dito. Vou preparar-lhes lugar. E se eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver" (NVI). A continuação do texto em João é justamente Jesus prometendo enviar o Espírito Santo e declarando que faria morada naqueles que O amam e obedecem Sua palavra (vs 23). Mesmo que não estejamos ainda reunidos onde o Senhor preparou para nós, já pertencemos a Ele. O encerramento do verso 14 de Efésios 1 também conduz a essa linha de raciocínio "até a redenção daqueles que PERTENCEM a Deus, para o louvor da Sua glória." Somos propriedades do Eterno e, nessa condição, realizamos a finalidade para que fomos criados "para o louvor da Sua glória". Quando ouvimos e cremos no evangelho e recebemos o selo do Espírito Santo, passamos a pertencer a Deus e cumprimos nossa razão de ser. O Homem foi criado para usufruir da intimidade com seu Criador, não como uma criatura apenas, mas na condição de Filho! Por isso que Cristo é o "primogênito de muitos irmãos" (Romanos 8:29), através do Seu sacrifício podemos deixar de sermos somente criaturas para sermos FEITOS Filhos de Deus! (João 1:12,13). Esta é uma realidade espetacular!

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Para Gleice, que ficou empolgada com a palavra "arrabon"...rs

Bom esta foi uma tentativa de exegese... De qualquer maneira, espero que o texto possa fazer diferença na vida daqueles que o lerem, encontrando corações que sejam terra boa para a Palavra dar frutos.