13 julho 2008

O Aquecimento Global e as Regiões Vinícolas


O aquecimento global está na moda.É notícia nos telejornais, é citado em filmes, seriados e até em desenhos infantis. Quase todo mundo já ouviu comentários, ou chegou a ver o excelente documentário de Al Gore "uma Verdade inconveniente" (An Inconvenient Truth, USA, 2006). O filme é a versão cinematográfica de um slide-show que o ex candidato a presidente dos Estados Unidos vem apresentando desde 1978 sobre a destruição sistemática do meio ambiente causada pelo acúmulo de dióxido de carbono na atmosfera terrestre e consequente aquecimento da Terra. Vale a pena conferir.

Li esta semana algo muito interessante sobre como o aquecimento global irá influenciar o mercado mundial de vinhos. As mudanças climáticas podem descaracterizar muitas regiões vinícolas famosas no globo, de forma prejudicial, e criar outros terroirs em locais que hoje não possuem cultivo de vinhas ou produzem vinhos ordinários.

A Austrália, por exemplo, corre o risco de perder até 80% de seus vinhedos por causa do aquecimento global que transformará as atuais áreas plantadas em zonas muito quentes, secas e impróprias para o desenvolvimento da vinicultura. Além do calor, a Austrália sofrerá também de escassez de água para a irrigação dos vinhedos. O país já está sendo atingido por secas e períodos de estio cada vez mais frequentes que podem selar de vez o declínio da vinicultura australiana.Todos sabemos que para produzir bons vinhos uma vinha deve sofrer, mas nesse caso a secura e sofrimento será além do necessário e, portanto, fatal. Será triste não poder contar mais com a Syrah (ou Shiraz) que se adaptou tão bem à terra dos cangurus e também com os excelentes cortes e assemblages que são oferecidos hoje pelos australianos.

Algumas castas de uvas também correm o risco de desaparecer, como é o caso da delicada Pinot Noir. A Pinot Noir é uma uva de casca fina, melindrosa, que hoje só é cultivada com sucesso em algumas regiões da França e Chile porque estraga-se ou perde o ponto de maturação com frequência. A solução para postergar os prejuízos, segundo alguns enólogos, seria a substituição do plantio de Pinot Noir por Cabernet Sauvignon e Merlot ou pela cepa branca Chardornay (que já inundam o mercado!). Os amantes de bouquets e sabores mais sofisticados serão diretamente atingidos caso a substituição seja efetivada.

Enquanto na Austrália as coisas pioram, em outros pontos do planeta, a situação pode ser diferente. Na Índia ocorre exatamente o contrário e o processo já começou por lá... Neste ano a safra indiana bateu o recorde de 21 milhões de litros de vinho produzidos (em 2007 foram 13 milhões), mas apesar do consumo crescente no país, seu mercado interno para este produto não ultrapassa os 12 milhões de litros e o mercado externo ainda não está tão receptivo, o que pode inflacionar os preços e desincentivar os produtores. O mercado vinicultor mundial ainda é motivado por romantismo, no caso dos vinhos do velho mundo, ou por investimento e tecnologia, no caso dos norte-americanos e australianos. A Índia não desfruta de nenhuma dessas vantagens. O país não possui tradição vinícola e o investimento em tecnologia e marketing é injustificado enquanto não houver a revelação de um um grande vinho que deixe os enólogos e enófilos entusiasmados. Alguém já ouviu algo de bom sobre um vinho indiano? Ainda não. Nem de ruim, mas a neutralidade neste caso não é boa. Bastaria a produção de um exemplar somente que impressionasse os sentidos de um enólogo como, por exemplo, Robert Parker. Seria suficiente este enólogo fazer uma menção honrosa ou um comentário benéfico para os preços se tornarem estratosféricos e o mercado olhar o produto indiano com, no mínimo, curiosidade. Robert Parker ou qualquer outro ainda não se pronunciou... O que nos deixa incrédulos ainda sobre a possibilidade de grandes vinhos surgirem por lá.

Outro país que pode ser beneficiado é a China. Sempre a China! Para desespero de concorrentes no mundo todo. O país já é o sexto maior produtor de vinhos do mundo e o quarto em área plantada e , segundo progressões, até 2058 pode assumir o primeiro lugar mundial nos dois segmentos. As mudanças beneficiarão a China e esta produzirá muitos e muitos litros de, adivinhe quais uvas, Cabernet Sauvignon e Chardornay! Parece que daqui a cinquenta anos, as pessoas serão saudosas do bom tempo em que bebíam Pinots, Càrmenères e Syrahs! Que futuro ingrato nos aguarda!

A boa notícía é que a mudança pode ou extinguir o terroir brasileiro de vez ou torná-lo muito interessante para a produção de grandes tintos... Vale a pena correr o risco, talvez sejamos a Índia de amanhã. Quem sabe?

Um comentário:

Maruza disse...

Por acaso aprecia vinhos? kkkkkk